Jornadas alquímicas de iniciação feminina pelos caminhos da Sexualidade, da Dança e da Conexão com a Natureza... (Dúnia La Luna)
"A Serpente é o entendimento de todas as coisas e a compreensão da vacuidade d'elas. Seguindo um caminho que não é o de nenhuma ordem nem destino, ela ergue-se á Altura que é a sua origem... Ela é o entendimento de tudo, a fusão dos opostos, do bem e do mal, a da valia da emoção como emoção e da vontade como vontade... " (Fernando Pessoa)



A Arte de Amar: Um conhecimento ancestral.

Quando para o touro selvagem, para o senhor eu me tiver banhado...
Quando com... meus lados eu tiver enfeitado,
Quando com âmbar minha boca eu tiver coberto,
Quando com Khol meus olhos eu tiver pintado,
E então em suas mãos claras minhas costas tiverem aconchegado,
Quando o senhor deitado ao lado da santa Inana...
Com leite e creme o colo tiver sido amaciado...
 Quando sobre minha vulva suas mãos ele tiver pousado,
Quando com seu barco negro ele tiver trazido vida a ela,
Quando sobre o leito ele me tiver acariciado,
Então acariciarei Shulgi, o fiel pastor... Acariciarei suas costas...

Um doce destino escolherei para ele...

(Poesia do período sumério antigo, 3000 aC. traduzido dos Cilindros de Gudea. É uma prece que precede os preparativos do hieros-gamos (o casamento sagrado) a união do deus com a deusa através da união sexual. 

Houve um tempo, por milênios, em que a união sexual permaneceu como analogia mais poderosa da Unidade Fundamental e Divina tornando-se a cerne dos cultos religiosos.
Pelo poema acima podemos perceber o espírito erótico (em seu significado original - Amor fundamental), o rito e a expressividade do amor sexual, em algum tempo, foram cultivados sem o julgo de moral que trazemos hoje... Tb sem promiscuidade, puritanismo ou vergonha feminina de seu corpo!
Não há dúvidas nos registros históricos de que existiu por milhares de anos muitas civilizações que cultivavam os templos dedicados à deusa do amor e da paixão para cumprir a função de adoração ao divino através da relação sexual oferecida por suas sacerdotisas.
As mulheres se dirigiam ao templo quando alcançavam uma certa maturidade, para “cumprir a lei da terra”, onde podiam ser instruídas e preparadas na mais refinada “arte de amar” para que
pudessem assim escolher livremente entre tornarem-se esposas ou sacerdotisas (Hieródulas, no termo da época que significa “serva-sagrada”).
(Afresco- Vila dos Mistérios – Pompéia – Local de aprendizados femininos)
“No sagrado aposento do amor, do templo que recende a ervas aromáticas e flores” as sacerdotisas recebiam estranhos, homens que iam ao templo para venerar a deusa do amor e assim garantirem a fertilidade de seus plantios, de suas mulheres e animais.
 Sons, cheiros, toques e carícias, cores, vinho, dança, banhos e óleos perfumados aguçavam todos os sentidos refinando os instintos masculinos, transformando sexo animal em sexo sagrado.
O mistério de criar um espírito sagrado para o ato sexual, de trazer a possibilidade do êxtase além dos genitais era mantido entre as artes do feminino e transmitido de mãe para filha de sacerdotisas para iniciadas!
Certamente a conexão dos ciclos da Terra e da Lua aos ciclos do corpo feminino fazia com que a própria mulher adotasse uma atitude poderosa de reverência em relação a sua sexualidade.
 Tal reverência está registrada por uma série de ritos especiais para o fortalecimento do corpo como supõem as danças pélvicas e tendas vermelhas femininas. 
Também assim era para o enaltecimento da beleza e do ato sexual:
“Braceletes de prata enfeitam seus braços e calcanhares, luas em miniatura pendem de suas orelhas e contas de lápis-lázuli circundam seu pescoço. Seu perfume de aroma adocicado cria uma aura que estimula e enriquece o desejo físico.”(Criado pela evidência dos  artefatos feminino encontrados na mesma época e local onde viveu diversas sacerdotisas assim como Enheduana, sacerdotisa  da Lua, uma Hieródula,  filha do rei Sargon (2.334-1.179 a.C) que reinou no primeiro império do mundo que se estendia do Mediterrâneo até a Pérsia)

Palácio de Knossos - Creta - 1.900 a.c

Independente da deusa da fertilidade, do amor ou da paixão ser venerada, a Hieródula (sacerdotisa que praticava a sexualidade sagrada) era membro integral da comunidade e por sua natureza era assim valorizada. 
Se no séc. 19 a síndrome da histeria (que significa literalmente doença do útero) era a doença feminina que evidenciava a falta de conhecimento do prazer da mulher e sua retenção orgástica, poderíamos entender que, hoje, indo de distúrbios de pânico e bipolaridade, à verdadeiras psicoses sexuais, nossa civilização sofre uma severa perda da Deusa do Amor e da paixão.
Assim como no poema abaixo de Enheduana quando percebe que a deusa não está presente na vida das pessoas,

(“As mulheres da cidade não falam mais de amor com seus maridos... De noite, elas não fazem amor... Elas não se despem mais diante deles... Revelando tesouros íntimos... 

...O homem não se curva para a mulher na rua, O homem dorme em seu aposento,
A mulher dorme sozinha.”)

temos sentido a dor em grande escala, “onde a necessidade compulsiva do poder substitui a alegria do amor.”

“A deusa do amor é uma espécie de energia psíquica e das mais poderosas! Ela é portadora do amor e do êxtase, uma combinação do impulso sexual natural e instintivo e da arte altamente elaborada de amar.”
“Para as mulheres que não têm vontade de mudar atitudes coletivas estreitas, especialmente aquelas baseadas na lei do patriarcado, a maturidade psicológica não é possível. A desatenção em relação a deusa traz como conseqüência encontro estéril com a vida e com os homens.
Mas quando a natureza feminina é valorizada e não é vista como brinquedo e sim como energia a ser abraçada, a vida psíquica desabrocha trazendo frutos e novas perspectivas.”
“Tal mulher não pode ser considerada sexy no sentido habitual do termo, pois sua sexualidade não é superficial, não é um conhecimento “aprendido” mas uma natureza cultivada e aperfeiçoada que vem das sutilezas de seu ser, emergindo das profundezas de sua alma...”
Snake Goddess, from the Palace Complex, Knossos,
Aegean Minoan 1650 BC, Faience, Height 11 5/8"
Se é verdade que nossas células tem memórias, a imagem arquetípica das sacerdotisas antigas, podem nos ajudar no caminho de volta para casa, para nossa natureza feminina, sexual e sagrada. Retomando os conhecimentos femininos ancestrais podemos contribuir para o enaltecimento do amor e da sexualidade nos fundindo inteiras e seguras de nossa natureza com a energia masculina  numa oportunidade de cura.
Começando por nossas próprias revisões de valores e atitudes com o corpo, a sexualidade e a beleza, entramos na teia da deusa e nela nunca estaremos só ou sem alimento.
Falando de mim... Desde os 15 anos de idade busco essa conexão com o sagrado e a sexualidade.
Primeiro pela Dança, depois pelo contato direto com o amor de um homem e depois através de partilhar esse contato com as mulheres, e então através de um contato mais aprofundado com o meu próprio corpo porém quando vim morar na natureza descobri o mais significativo e rápido contato comigo e com a essência do sagrado, nunca antes conhecida! Essa conexão eu venho compartilhando com as mulheres num trabalho de imersão aqui na natureza que faz parte do que chamo de "O Caminho da Serpente" Essa imersão é para ser vivida e degustada quantas vezes pudermos ao passo que vamos nos permitindo assim como as serpentes deixar nos renovar a nossa pele cada vez mais!
Dúnia La Luna
Texto:  Dúnia La Luna – com trechos retirados do livro: “A Prostituta Sagrada de Nancy Qualls

Detalhes desse caminho:
https://www.facebook.com/caminhosdaserpente/?ref=ts&fref=ts

Um comentário:

  1. Lindo texto, me identifico profundamente. Saberes intuitivos não precisam de provas, ainda que existam evidências e provas...não precisamos delas. Somos iniciadas de nossa própria memória ancestral.

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